sábado, 13 de junho de 2009

LITERATURA INFANTIL

Estou fazendo um curso de formação em Literatura Infantil e no último encontro trabalhamos com poesia HAI KAI.
Eu nunca tinha ouvido falar nisso e acredito que muitas pessoas também não, por isso transcrevo aqui alguns tópicos que para mim foram importantes e que compartilho as idéias.

* Os poemas HAI KAI são de origem japonesa
* Eles não precisam necessariamente ter rima
* São compostos SEMPRE de três versos
*Geralmente falam da natureza
* Podem ser usados com crianças de qualquer idade
* São porta de entrada para se trabalhar com poesias
* Na educação Infantil podem ser trabalhados apenas oralmente
* Podemos trabalhar com expressão corporal a partir deles, solicitando que os alunos através de gestos expressem o poema para que os demais descubram de qual poema se trata
* Podemos dar a primeira parte de um Hai Kai e pedir que os alunos o concluam e após exponham ao grupo.

ALGUNS HAI KAI:

Girassol,
Flor da manhã
A menina dos olhos dança
( Fred Maia)

Tarde de vento
Até as árvores
Querem vir para dentro
(Paulo Leminski)

Dia de chuva
Minha rua
Vira parque de diversões
(Alexandre Brito)
O sol apressado
Epalha a dourada toalha
Pelo chão molhado
(Eno Wanke)


A lua na montanha
Gentilmente ilumina
O ladrão de flores
(Basho)

VIOLÊNCIA E PIAGET

Gostei muito do texto da aula de Psicologia: Significações de violência na escola... ( de Jaqueline Picetti), pois pude constatar através dele que realmente algumas questões que denominamos como onda de violência escolar, são na verdade, crianças desenvolvendo o seu senso de moralidade, de justiça, isto é, se testando. É claro que a interferência do professor neste sentido, faz toda diferença, afinal é a partir da auto reflexão e auto crítica que o aluno constrói seus conceitos morais. Porém, não podemos também deixar tudo assim, como sendo apenas desenvolvimento, por isso que relato aqui uma experiência por mim vivenciada e que gostaria de compartilhar.

RELATO
A situação que logo me surgiu ao ler a proposta da atividade foi uma vivenciada por mim no ano letivo de 2008 com alunos da 4ª série do Ensino Fundamental. Na verdade, a situação ocorreu na quadra poliesportiva da escola e não especificamente na sala de aula, porém como foi durante a aula, gostaria de relatá-la.
Eu era professora P2 de duas turmas da 4ª série e ficava 2 horas em cada grupo na mesma manhã. Naquele dia o professor de Educação Física que também revesava nas turmas, havia faltado na escola e eu tinha agendado com a supervisão para olhar um filme com uma das turmas. O filme era sobre amizade – tema que estava trabalhando com os dois grupos. Como não poderia passar o filme para o segundo grupo em função do tempo, pois no período da aula deles havia a ida ao refeitório e recreio, tive a idéia de unificar as duas turmas (que eram pequenas) para assistir o filme proposto. Para mim facilitaria o trabalho, pois depois iríamos para a quadra fazer educação física.
Ficamos eu e mais a substituta com as duas turmas e no momento da educação física os meninos tiveram um tempo para usar a quadra e depois as meninas. No momento que as meninas jogavam futebol, um dos alunos (que aqui denominarei apenas como A.) começou a provocá-las verbalmente e mais a uma menina especificamente. Então quando uma menina fez um gol e elas entraram em discussão para ver se era impedimento ou não, ele deu-se o direito de entrar na quadra e ir mexer no painel de pontuação. Uma delas não gostou e pediu para A. sair do campo, pois elas respeitaram o momento anterior que era deles (frase de uma delas), porém ele não deu ouvidos e continuou a provocar. Nesta altura tanto eu quanto a outra professora já estávamos chamando sua atenção mas ele, apesar de ouvir, não modificava sua atitude. Foi então quando de repente a mesma menina que pediu para A. sair foi em sua direção e levantou o braço, num gesto pedindo para que ele realmente saísse. O aluno A. se enfureceu de tal forma, partiu para cima da menina, jogou-a no chão, e começou a golpeá-la com socos muito violentos. Ele foi dando vários socos e todos na face. Foi tudo tão rápido que mesmo eu correndo de um lado, a substituta de outro e mais um aluno não conseguimos impedir e para acalmá-lo eu o puxei pela blusa (que rasgou) e um aluno o segurou com o auxílio da outra professora. Eu fiquei com ele depois que o tiramos de cima da menina e perdi meu controle, gritei muito com ele, enquanto a professora socorria a menina e limpava o sangue do seu rosto. O resultado disso foi a mãe da menina indo a delegacia fazer uma ocorrência, além da menina ter faltado aula durante duas semanas em função do traumatismo ocular que ela teve. Seu rosto ficou horrível! Durante 18 meses ela fez acompanhamento com oftalmologista que eu a levava sempre, pois até este período havia chance de ficar sequelas e nós professoras tivemos que pagar parte do tratamento, pois a direção não tinha de onde tirar recursos.

Quando relato esta história, é para mim uma forma de desabafo, pois eu nunca tinha vivenciado algo parecido em função da violência de um aluno por nada, quero dizer “quase nada”. O que ocorreu ali jamais para mim vai ter justificativa, pois com um gesto que a menina fez para A. e ele ficou assim transtornado.
É claro que a situação descrita acima traz incutida em si questões muito individuais que A. trazia de sua vida tanto familiar quanto escolar. Ele era um garoto que normalmente apresentava problemas na escola, estava sempre envolvido com brigas no recreio, não tolerava frustrações, repetente, e a solução para isso geralmente era a agressão física. Sabíamos que era rejeitado pela mãe e pelo padrasto e seu pai vivia com outra família, mas quero aqui justificar que nós, enquanto escola, fazíamos todo o possível para que A. melhorasse sua vida: ele era o único aluno da escola que participava do Projeto Canoagem proporcionado pela Prefeitura, ganhava roupas e alimentos das professoras e mesmo sem ter dinheiro sempre participava de passeios de lazer e culturais.

O texto de Jaqueline Picetti cita a violência sob os aspectos empiristas, inatistas, porém seu enfoque é sobre a forma como Piaget pesquisou a respeito. Acredito que fazendo um vínculo entre Piaget e a minha situação algumas questões são possíveis de se afirmar.
Primeira: Apesar de A. ter 12 anos na época do fato ocorrido, acredito que o referencial de justiça, intencionalidade, etc dele era menor, pois estava em fase de construção destes valores.
Segunda: A. avaliou o ato da menina apenas pelo possível resultado: o gesto do braço para cima poderia resultar num tapa talvez?!
E a terceira delas que para mim ficou mais evidente é que A. logo após o ocorrido esboçou reação de sanção ao seu ato. Ele expressava verbalmente que deveria ser severamente punido pelo cometido e inclusive citava idéias.
Finalizando, acredito parcialmente que A. estava tentando talvez fazer justiça a sua forma, mas também acredito que havia outros fatores preponderantes que contribuíram para o grau de violência empenhado pelo referido aluno.
Mais uma vez venho mencionar que esta experiência me abalou muito, inclusive emocionalmente na época, pois eu não havia visto na minha vida profissional a dimensão da fúria de um aluno e é por isso que talvez tenha me detalhado tanto ao relatar a situação.